A história do Jovem Lucas Rodrigues de Souza teve início em Ilhabela e hoje, graças ao tênis, continua sendo escrita nos Estados Unidos. Seu primeiro contato com esse esporte foi através do Projeto Tênis Mar, fundado em 2003 por Rogério Prudêncio. A iniciativa social já beneficiou mais de 4 mil alunos da rede pública em Ilhabela em cerca de 20 anos de existência.
Recentemente, Lucas esteve em Ilhabela para auxiliar na revitalização do projeto. Nossa redação aproveitou para bater um papo com o atleta para conhecer melhor sua história de superação, e assim, incentivar mais jovens a trilhar um caminho de superação através do esporte.
Diário do Litoral Norte: Como foi seu primeiro contato com o tênis e qual a importância do esporte na sua vida?
É uma história longa mas eu vou tentar resumir. Conheci o esporte através do Projeto Tênis Mar. Meu técnico, Rogério Prudêncio, começou esse projeto nas quadras da Academia Master Tênis – IMT, oferecendo aulas para alunos das escolas públicas. Ele chegou na minha escola quando eu estava na 5ª série, na Escola Eva Esperança, trouxe umas raquetes, umas bolinhas e na aula de educação física, ao invés de jogar futebol nós improvisamos uma rede na quadra e começamos a brincar de tênis ali mesmo. Após esse primeiro contato, fomos convidados, eu e meus amigos, para ter aulas de graça nas quadras da academia. Quando visitei e comecei as aulas, tomei gosto pelo tênis. Cresci jogando com diversos amigos, o tênis virou parte da minha vida. Cresci nas quadras, comecei a gostar muito, aprendi muito, e isso me trouxe a onde estou hoje. Atualmente moro fora do país, tenho um trabalho estável nos EUA, tudo conquistado através do tênis.
Diário do Litoral Norte: Você saiu de Ilhabela para jogar tênis para uma universidade nos EUA? Conta como foi essa história.
Essa história começou quando eu treinava junto com o filho do meu técnico, o Leonardo Prudêncio. Nós éramos parceiros de quadra, jogávamos juntos. Nós fizemos um vídeo dele jogando tênis e mandamos para essa universidade, a Itawamba Community College – ICC, em Fulton, Mississippi. Os técnicos gostaram e mandaram essa oportunidade para que ele fosse estudar lá com bolsa. Eu segui o mesmo caminho, estudei bastante inglês, entrei num plano de treino forte de tênis e bem disciplinado para chegar a um nível onde eu pudesse competir no circuito universitário americano. Fiz um vídeo jogando, mandei para os técnicos de tênis de times de universidades americanas, para diferentes universidades. Abri comunicação com os que me responderam com interesse para discutir o meu nível no tênis, o quanto os técnicos das universidades poderiam oferecer em bolsa de tênis, o quanto eles poderiam pagar a minha anuidade nas escolas e assim me decidi por onde eu conseguiria fazer uma faculdade. Minha sorte foi que as propostas cobriam boa parte dos meus estudos, foi o que me permitiu ir aos EUA e bancar meus gastos por lá.
Diário do Litoral Norte: A universidade que você cursou nos EUA criou um troféu em sua homenagem, é isso mesmo?
É verdade! Eu estudei na Dalton State College – DSC, na Geórgia, logo que me transferi da Georgia para o Mississippi. Fui convidado para lá em 2013, fui parte do time de tênis da faculdade. No meu time haviam estrangeiros de diversas partes do mundo, da Rússia, da Colômbia, da Espanha, Nova Zelândia, Inglaterra. Éramos um time com 10 pessoas e dentro desse time fui eleito capitão, passei dois anos estudando e me dedicando a esta função. Nosso time conquistou os regionais e chegamos ao top 5 no ranking do nosso nível entre todas as universidades americanas da liga NAIA. No meu último ano o Departamento Atlético lançou um troféu com meu nome, o Prêmio Lucas de Souza de Liderança. Eles gostaram da minha ética de trabalho na quadra, da minha conduta como esportista, e me homenagearam com este prêmio que foi entregue sob meu nome. A iniciativa recebeu grande apoio da universidade e do meu time de tênis.
Diário do Litoral Norte: Agora você vive nos EUA, que diferentemente do Brasil é um dos países que mais investe em esporte no mundo. Como você vê essa diferença entre Brasil e EUA? E o que você diz para as crianças que hoje sonham em ganhar destaque no mundo esportivo?
Eu sou um grande apoiador de projetos sociais porque eu vim de um deles. Eu vejo o tanto que os EUA investem no esporte desde muito cedo, desde o ensino fundamental. Eles investem em uma multidão de esportes, então você tem essa oportunidade de entrar em um que goste e se desenvolver, eles dão esse suporte. De onde eu venho, onde não há esse suporte, eu fico pensando por que não? Tanto que toda vez em que eu voltava ao Brasil de férias eu ajudava a dar aulas no projeto social que me lançou, o Projeto Tênis Mar. Todas as férias, quando eu tinha essa chance, eu ía para as quadras com as crianças e contava sobre a minha experiência, sobre a minha situação e explicava que a chance de ir para os EUA não apareceu do nada e sim através de muito esforço e muita luta, mas não é algo inalcançável. É preciso ter dedicação e disciplina. Agora estamos criando a Associação de Tenistas de Ilhabela -ATI com o intuito de retornar com o Projeto Tênis Mar, para dar as mesmas oportunidades que eu tive para as crianças no futuro, precisamos abrir essa janela. O Brasil tem muito a ganhar através do esporte, foi o esporte que me deu uma vida fora do país, foi o que me deu educação e me deu o trabalho que tenho hoje.
Diário do Litoral Norte: Como você analisa sua trajetória desde o começo até o homem que você se tornou hoje através do esporte?
É uma longa trajetoria cheia de altos e baixos. Comecei a jogar tenis com 11 anos, e com 18 anos fui para os Estados Unidos. Passei por muitas dificuldades financeiras mas tive um grande apoio da familia desde que essa ideia de estudar fora do pais surgiu. Sem eles e os sacrificios que fizeram por mim, não estaria onde estou atualmente. Hoje tenho 28 anos, sou casado com uma linda esposa americana, trabalho em uma empresa do governo americano, a Tennessee Valley Authority, e nas horas vagas também sou professor de tênis. Posso dizer que tudo que tenho hoje foi conquistado atraves do esporte e muito esforço. O tênis é o esporte que guiou a minha vida por muitos anos, me trouxe a onde estou hoje e me ensinou valores. Na quadra de tênis, quando você joga torneios pequenos não existe juiz, você é o próprio juiz do seu lado. É um jogo que te ensina honra desde o início e isso foi uma das ideias que dirigiu minha vida, alem da ética, do respeito, da educação. Isso me ajudou muito a ser o que sou hoje, por isso eu me orgulho em dizer que devo muito ao tênis. Por isso dedico minha vida ao tênis, quero retribuir tudo o que recebi, quero que outras crianças de escolas públicas tenham a oportunidade que eu tive. Nossa luta hoje é fazer isso acontecer!
